terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O ideal de cavalaria

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O aparecimento da lenda arturiana, fermento da matéria da Bretanha e a sua ligação a uma realidade histórica, continua sendo um mistério. As críticas que vêem nela uma criação original do século XII ocultam o manifesto crisol céltico de que se encontram emanações ao longo das narrativas. Sendo a difusão da lenda céltica essencialmente oral, serviu de fundo comum à criação da lenda arturiana. A trama é simples: Artur é um soberano amado e respeitado na Bretanha, o melhor que jamis houve. Sua mulher, a bela Guenièvre, vive um amor ilícito com Lancelot du La. Ao lado do rei Artur reúnem-se os mais valorosos cavaleiros do reino; estão junto do senhor ao redor da famosa Távola Redonda. Nesta base simples tecem-se numerosas intrigas amorosas, aventuras incríveis que põem em cena os mais célebres cavaleiros: Gauvain, Lancelot, Perceval…nomes que ficam desde logo presos ao nosso imaginário. Enfrentam todos os perigos para salvarem o seu reino ou defenderem a sua dama, respeitando um novo ideal, mais espiritual, insuflado pelos autores do século XII. Estes, de fato enriqueceram consideravelmente a herança céltica, criando o célebre espírito cavalheiresco, ideal romanesco que se transformou na realidade em verdadeira ética que o cavaleiro deve respeitar. Para Chrétien troyes, o termo “cavalaria” é uma palavra-chave que se inscreve no centro da sua obra. Essa posição que se alcança pela investidura e que se torna uma qualidade coletiva já existia na Chanson 
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Lancelot, Artur e Guiniévre, manuscrito séc. XII – França – British Libray.
No entanto, Chrétien de Troyes introduz uma nova noção fazendo dos seus heróis cavaleiros errantes, motivo que designa um guerreiro em perpétuo movimento, combatendo a cavalo. Estes cavaleiro são celibatários, não têm vínculos precisos e dedicam-se a viajar em busca de honra e de glória. São atraídos pelos lugares de festividade onder se organizam torneios. Nessa altura, tentam mostrar as suas proezas e aumentar a sua reputação, submetendo o maior número possível de adversários, sob o olhar admirador do elemento feminino. Estes cavaleiros viajantes muitas vezes com um senhor que dirige a tropa. Esta definição faz do cavaleiro um modelo complexo de conduta e de ação, obedecendo a um código íntimo de honra.
O cavaleiro errante encarna assim a coragem, a proeza, a lealdade de infalível, a fidelidade à palavra dada. tem que dar provas de temperança na batalha, de generosidade, tanto em relação aos amigos como aos inimigos, e de cortesia para com as mulheres. A liberalidade do cavaleiro que redistribui todos os seus bens às pessoas e aos pobres faz parte da sua fama. Os valores celebrados pela cavalaria são o fruto de uma longa educação. O bacharel, futuro cavaleiro, deve fazer a sua aprendizagem junto de um senhor de quem passas a ser o criado e depois o escudeiro. Aprende então tanto o manejo das armas como a ética de cavalaria. Uma vez investido, deverá demonstrar o seu valor atuando nos torneios ou participando das aventuras que surgem pela sua frente. Na procura de glória e reconhecimento, estes cavaleiros errantes vão realizar igualmente múltiplas buscas, das quais a mais prestigiosa é a do “GRAAL”>

A Morte Negra – O Triste Cotidiano Medieval


A fome, as pragas e os desastres causados pelos humanos criaram então problemas sérios, mesmo antes de 1348. A “peste negra” de 1348-1349 foi, claramente, uma grande catástrofe, mas a população tinha atingido o seu auge...
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O Ideal da Cavalaria


O aparecimento da lenda arturiana, fermento da matéria da Bretanha e a sua ligação a uma realidade histórica, continua sendo um mistério. As críticas que vêem nela uma criação original do século XII ocultam o manifesto crisol céltico...
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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

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As Canções de Gesta – Chansons de Geste

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 Batalha de Roncesvalles nos Pirineus, 778 AD, foi a base do épico “Chanson de Roland”. Autor desconhecido. Iluminação de manuscrito, Bruges, flamengo, 1462.
A figura do cavaleiro e o simbolismo que o rodeia estão no centro destas narrativas literárias em língua vulgar. O cavaleiro desempenha um papel preponderante nas Canções de Gesta, do latim gesta, proezas, gênero épico abundante no século XII e cuja gênese esta sujeita a muitas controvérsias. Estes poemas narrativos de comprimento variável são salmodiados, relacionados em salmos, em melodias simples pelos trovadores, garantindo e repassando a transmissão oral dos textos. A maior parte das canções de gesta e algumas trovas(contos para rir) eram de fato destinadas a serem cantadas num monocórdio (salmodiadas) por viajantes; uma das ocupações retribuídas destes era propagarem estas histórias de lugar em lugar; é por isso que esses textos comportam muitas interrupções e reclamam continuamente a atenção do auditório ou por ventura um número ou grupo de pessoas que a ouvem, pois atenção tem que ser instigante e curiosa. A obra-prima do gênero é a célebre Chanson de Roland, poema muitas vezes retocado e cuja a mais antiga versão, o Manuscrito de Oxford, dataria de 1100. Canta os altos e heroicos feitos de Roland, sobrinho de Carlos Magno e glorioso defensor da fé cristã. Poema de alcance patriótico, nacional, religioso e de estrema bravura, faz do cavaleiro conquistador o defensor da coletividade, da comunidade, de todos os cristãos. É um gênero que apresenta poucos traços realistas, pois descreve a guerra de uma forma genérica, muito abrangente, de grandes traços. Transmite todavia a atmosfera e o fervor que as anima, a atitude do cavaleiro valente e bravo em todas as ocasiões, descrevendo sem pudor ou restrições a crueldade dos combates corpo a corpo e a extrema violência recíproca.
O tema tradicional da chansons de geste ficou conhecido de maneira mais abrangente na França. De 1150-1250, a canções de gesta são ordenados em ciclos:
  • O ciclo do Rei Carlos Magno
  • O ciclo de Doon de Mayence ou o ciclo dos barões rebelaram
  • O ciclo de Garin Monglane
As Canções de Gesta reflete as estruturas características da literatura oral. Mas estes efeitos foram congeladas em textos escritos. As Chanson de Geste esta enraizada no nacionalismo, nos feitos dos seus ancestrais, nos feitos das cruzadas, enfim em todas as guerras contra os inimigos que ameaçam as suas terras onde a honra e a vida de um país para garantir a honra e a vida são defendidas pelos heróis cavaleiros sem temores e com extrema bravura. ou seja o herói tem que reagir. As Canções de Gesta esta, portanto, ligada a preocupações ideológicas: é um épico político real.

La Chanson de Roland, em anglo-normando, primeiro trimestre do século XII, parte I, iniciando a parte 2. The Bodleian Library, University of Oxford.
Paulo Edmundo Vieira Marques
http://medievalimago.org/2014/07/19/as-cancoes-de-gesta-chansons-de-geste/